ARQUIVO HISTÓRICO E PATRIMÓNIO ARTÍSTICO DA MISERICÓRDIA DE LAGOS
A Santa Casa da Misericórdia, uma das mais antigas do país, possui um vasto espólio arquivístico e artístico.
No Museu Municipal Dr. José Formosinho é possível encontrar expostos vários itens, tais como as Bandeiras da Misericórdia, uma Placa do Andador de Prata e um livro do Assento dos Irmãos datado de 1702.
O fundo documental que se encontrava no museu foi posteriormente transferido para a Biblioteca Dr. Júlio Dantas. Composto por 171 livros, alguns deles do final do século XV e século XVI, está disponível para consulta a estudiosos e interessados na História desta Instituição, assim como na própria História de Lagos e Portuguesa.
É, em parte, graças a Francisco Pereira da Silva Pacheco, Provedor da Misericórdia no século XVIII, que o arquivo se encontra em relativamente bom estado de conservação. Foi este Provedor quem mandou organizar o arquivo e reunir, em volumes encapados a pergaminho, os livros da Misericórdia de Lagos (Pinto, 1968:69).
A riqueza do arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Lagos, fundamental para o conhecimento da história da Instituição, é perceptível em alguns itens de elevado valor devido à sua raridade e antiguidade, como é o caso do Compromisso das Misericórdias de 1577.
- BANDEIRA DA MISERICÓRDIA
As Bandeiras das Misericórdias são o símbolo mais representativo destas Irmandades. Eram usadas para encabeçar os cortejos que se realizavam sempre que falecia um Irmão da Confraria, para acompanhar os condenados à morte, em procissões fúnebres ou outras festividades.
No Museu Municipal Dr. José Formosinho estão expostas duas bandeiras da Misericórdia de Lagos, uma mais antiga, do século XVI-XVII, e uma que foi repintada no século XVIII. Devido ao estado de deterioração em que se encontravam, foram ambas restauradas em outubro de 2015.
As pinturas são de óleo sobre tela, de autoria desconhecida. A iconografia utilizada é comum a todas as Misericórdias. Tal como o Compromisso da Misericórdia de Lisboa serviu de modelo a todas as Misericórdias, o mesmo aconteceu com os temas das suas bandeiras.
Tendo a bandeira duas faces, na primeira o tema representado é a Virgem da Misericórdia ou a Virgem do Manto, padroeira e protetora da Instituição. De braços estendidos, Nª Senhora acolhe debaixo do seu manto figuras que representam todas as classes sociais (Papa, Reis, Fidalgos, Religiosos e Povo). Debaixo da Virgem está representado um preso, símbolo da atenção que esta instituição devota aos condenados, tal como consta no seu Compromisso: “Enterrar os mortos e acompanhar os condenados à forca.” Na bandeira mais antiga, dois anjos levantam o manto de Nª Senhora.
A bandeira de pintura mais recente, apresenta uma alteração que corresponde à representação de um frade da Ordem da Santíssima Trindade, ajoelhado e de mãos levantadas, numa alusão a Frei Miguel Contreiras, que alguns historiadores afirmam ter sido confessor da rainha D. Leonor e mentor das Misericórdias. A Misericórdia de Lisboa foi a primeira a adotar esta nova iconografia, que depois, por ordem do rei Filipe III de Espanha, II de Portugal, foi adotada por todas as Misericórdias. Por este motivo existem duas versões da bandeira da Misericórdia.
No reverso há uma representação de Nossa Senhora da Piedade, culto muito difundido em Portugal e Além-mar. A representação deste tema tinha o propósito de recordar que a Misericórdia de Lisboa tinha sido fundada na Capela de Nª Senhora da Piedade da Terra Solta, na Sé de Lisboa, pela Rainha D. Leonor.
A bandeira do século XVI-XVII apresenta uma legenda em latim. Na face frontal da Bandeira, apesar de estar ilegível, aparece a seguinte inscrição:“LIVORE EJUS SANATI SUMUS” (Pelas Suas feridas fomos salvos). A face oposta tem a legenda "SUB TUUM PRÆSIDIUM CONFUGIMUS, S. D. G. (SANCTA DEI GENITRIX)" (Sob a Tua proteção nos refugiamos, Santa Mãe de Deus).
Chama-se a atenção para o facto de estas duas legendas estarem trocadas, sendo que a que está na face frontal deveria estar no verso e vice-versa, tal como se verifica nas outras bandeiras da Misericórdia.
Estes símbolos testemunham os princípios por que se regem as Irmandades: na face frontal, Nª Senhora da Misericórdia simbolizando a proteção dos seus devotos de todas as classes sociais; e na outra face, Nª Senhora da Piedade simbolizando o acolhimento do sofrimento humano.
Bandeira da Misericórdia - séc. XVI-XVII
- PLACA DO ANDADOR DA MISERICÓRDIA
Placa de prata, do século XVIII proveniente da Santa Casa da Misericórdia de Lagos. É uma peça retangular de arestas arredondadas com uma cruz que tem uma caveira na base.
A Placa tem a seguinte inscrição:
MZ DE
LA GOS
Era usada como distintivo quando o membro da Misericórdia saía para pedir esmola para os pobres.
- COMPROMISSO DAS MISERICÓRDIAS DE 1577
O Compromisso da Misericórdia de Lisboa, reformado em 1577 por El Rei D. Sebastião, foi difundido por todas as Misericórdias do reino de Portugal e dos Algarves.
A Santa Casa da Misericórdia de Lagos detém, no seu arquivo, o único exemplar impresso deste compromisso conhecido, datado de 27 de junho de 1577 (Livro n.º 205, fls 1-6). Por ocasião das comemorações dos 500 anos da Misericórdia de Lagos, a Instituição publicou um fac-simile do “Compromisso das Misericórdias de 1577” e a sua versão em português corrente.
CONTATOS:
- Museu Municipal Dr. José Formosinho
- Biblioteca Municipal de Lagos - Dr. Júlio Dantas
Bibliografia:
CORRÊA, F. C. (1998). Compromisso das Misericórdias de 1577. Lagos: Santa Casa da Misericórdia de Lagos.
CORRÊA, F. C. (1998). Elementos para a História da Misericórdia de Lagos. Lagos: Santa Casa da Misericórdia de Lagos.
PINTO, V. R. M. e PINTO, M. H. M. (1968). As Misericórdias do Algarve. Lisboa: Ministério da Saúde e Assistência.
RODRIGUES, M. V. (2004). Santa Casa da Misericórdia de Santarém – Cinco Séculos de História. Santarém: Santa Casa da Misericórdia de Santarém.
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA / SECRETARIA-GERAL / MUSEU DE S. ROQUE (1995). Mater Misericordiae. Museu de S. Roque e Livros Horizonte.
SILVA, M. F. (1998). Rainha D. Leonor e as Misericórdias Portuguesas. Lisboa: Rei dos Livros.